Victor Begara viveu uma semana de grandes emoções. Há muito tempo na ativa do poker online, o jogador tem uma legião de fãs espalhados pelo Brasil, incluindo mesmo outros jogadores de poker. Seu talento o coloca como um dos craques do país e sua trajetória tem grande reconhecimento, mas ele mesmo acreditava que faltava alguma coisinha para coroar toda sua dedicação ao longo dos anos. Agora não falta.

Begara, o popular “Headão”, participou efetivamente da construção de uma parte da história do poker brasileiro ao estar na FT de onde saiu, até hoje, o maior prêmio para um jogador do país. Era uma mesa final de WSOP, e o craque não só esteve lá. Ele viveu as emoções como se devia e conquistou seu maior hit da carreira com o sexto lugar na decisão, que lhe rendeu US$ 252.031.

“Chegar nessa mesa final é inacreditável, é daqueles torneios que só gente de muita sorte chega na FT né? Eu ser um desses caras de sorte foi incrível”, conta, mostrando já uma humildade ímpar. “Eu sempre me expus aos maiores torneios live e online, e no online faltava um big hit em high stakes. Eu tinha isso (a falta do big hit) um pouco engasgado”, diz, feliz pelo fato de ter conseguido conquistar tudo como foi.

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O hoje instrutor de uma das principais turmas do 4bet Poker Team ainda lembra como foi a decisão: “eu senti um grande nervosismo entre 20-30 left. Na semi-FT já fiquei mais tranquilo, foquei e consegui esquecer que era um torneio com potencial pra “mudar a vida”. Mas a adrenalina estava alta, eu tava pilhado, não consegui dormir depois. Eu geralmente fico irritado com as quedas, mas ali só fiquei triste. Não por perder, mas porque não queria que acabasse aquele momento especial”.

No meio do caminho para a mais valiosa vitória da carreira, Victor viveu experiências novas no poker. Depois de muito tempo no 4bet, o profissional foi convidado a fazer parte do 9Tales, o pool mais famoso do Brasil, que assombra os high stakes pelos feltros. Ele aceitou, foi viver a nova aventura e lembra como foi estar ao lado de tantos craques que respiram o jogo dia-a-dia:

“O 9Tales foi uma experiência incrível, que só agradeço por ter feito parte. Foi lá que aprendi a diferença entre ser um jogador muito bom e ser um dos melhores do mundo. Eu acredito que entrei num nível abaixo de parte dos jogadores que lá estavam e quando saí já tinha me aproximado do nível do topo (mas ainda não me considerava tier 1 do grupo)”, explica, mais uma vez mostrando humildade.

Mas uma outra coisa que a fala mostra é a cobrança pessoal sobre si mesmo. Assim como qualquer jogador de poker e qualquer pessoa no geral, o “Headão” é humano. Por toda a pressão e por uma cobrança pessoal fortíssima, ele enfrentou problemas graves, precisou procurar ajuda e batalhou para superar uma situação bastante complicada, mas não incomum nesse meio, onde a exposição e a exigência são tão altas.

Ele se desligou do 9Tales algum tempo depois, e isso veio por motivos explicados por ele mesmo: “a saída aconteceu num momento em que eu estava em completo “burnout”, eu não aguentava mais jogar MTTs e o nível de dedicação exigido lá estava me fazendo mal. Eu me cobrava muito para atingir o nível deles e ficarmos num deal justo. Mesmo eu trabalhando muito, tinha gente trabalhando mais. A dedicação deles é incrível”, relembra.

Begara acertou sua saída para ficar um tempo off e depois tentou migrar dos MTTs para o PLO5. Ele se mudou para Portugal para a nova jornada, mas também não se animou de jogar. Não conseguia mais. Ele estava ando por um momento difícil e confuso, com alterações em seu humor e outras funções do corpo. Posteriormente, recebeu diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar, que é uma condição dos transtornos de humor onde o indivíduo a por ciclos de mania e depressão. A permanência em um ciclo pode durar de semanas a meses, caso não seja tratado. Begara estava no quadro de mania.

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Consultamos uma Psicóloga para entender melhor sobre o diagnóstico. De acordo com Fernanda Pacheco, o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) compreende estes dois ciclos, o período de mania refere-se a uma condição onde o paciente se sente “no topo do mundo”, há uma agitação intensa, baixa necessidade de descanso, comportamentos de risco exagerados, é um estado de euforia descomedida; por outro lado, o ciclo depressivo assemelha-se com a depressão, onde o humor é mais rebaixado, a disposição e esperança são bastante afetadas.

Ainda de acordo com Fernanda, “o período de mania” costuma ser o mais crítico. Como o paciente se sente muito bem, dificilmente chega a buscar atendimento especializado, o que dificulta o manejo e remissão de sintomas, é o ciclo em que o indivíduo pode se tornar um risco para si e aos outros, costuma ocorrer mais internações que no ciclo depressivo”. Ao contrário do que se tem no senso comum, a oscilação do humor não é brusca, um mesmo ciclo dura, no mínimo, semanas, e o tratamento inclui medicações e psicoterapia.

O “Headão” chegou a ter um surto psicótico. Por sorte, ao mesmo tempo, ele decidiu ligar para um amigo que morava perto e foi cuidar dele. “Ele notou que tinha algo errado comigo e cuidou de mim. Depois de algum tempo, ele decidiu me levar pro hospital. Tive que ser internado num hospital psiquiátrico, fiquei sete dias lá. Fui diagnosticado com transtorno bipolar. O surto que tive é meio que o auge disso”, conta, sem esconder o problema que enfrentou.

O craque voltou para o Brasil e seguiu se tratando por aqui, agora com maior apoio de pessoas próximas. “Fiquei seis meses sem jogar um torneio de poker sequer, mas conforme fui melhorando, fui sentido vontade de voltar a jogar. Joguei por conta por algum tempo, mas não estava feliz com as swings. Então falei com o 4bet novamente e busquei voltar para o que eu gostava de fazer, que era dar aulas e grindar”, explica.

Ele teve uma conversa franca com os sócios do time, que o receberam mais uma vez de braços abertos: “entrei em contato com eles, contei tudo que havia se ado comigo, que eu ainda tava em recuperação e tal, e eles foram super legais comigo, confiaram em mim plenamente pra voltar a ser um jogador do time e instrutor. E é isso, desde abril to no 4bet e super feliz com a maneira que as coisas estão caminhando”, fala Begara.

Feliz da vida com o prêmio, atento a importância de sua saúde mental mais do que nunca e fazendo o que gosta, Begara é só agradecimentos com o momento e lembra do final de seu torneio do jeito mais sublime possível: “quando acabou fui dar um abraço na minha mãe, que ainda tava acordada na torcida. Eu não uso muito as redes sociais, mas sei que tem muita gente que torce por mim. Eu queria agradecer toda essa galera”, finaliza.

A história do big hit de Begara já era incrível, pois coroava a grande carreira de um dos principais jogadores do país. Sabendo toda a batalha que foi para chegar até lá, a superação pelos problemas e a serenidade para falar abertamente sobre isso, seu sexto lugar é tão grande como o título.

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Confira o episódio #15 do Depois do River:

O instrutor do 4bet abriu o coração e deixou um grande relato após o sonhado big hit